quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Stéphane Mallarmé

BRISA MARINHA

A carne é triste, e eu li todos os livros, todos.
Fugir! além! Eu sei que há pássaros já doidos
Por se ver entre os céus e a espuma do alto-mar!
Nada, nem os jardins refletidos no olhar,
Retém o meu olhar que já no mar se aninha,
Nem, ó noites, a luz da lâmpada sozinha
Sobre o papel vazio, intangível de brilho,
E nem a mulher moça amamentando o filho.
Hei de partir! Vapor de mastros oscilantes,

Ergue a âncora para regiões extravagantes!
Um Tédio desolado, entre anseios intensos,
Ainda acredita no supremo adeus dos lenços!
E esses mastros, talvez, cheios de maus presságios,
São dos que um vento faz vergar sobre os naufrágios
Sem ilhas férteis e sem mastros de veleiros…
Mas, ó minha alma, ouve a canção dos marinheiros!

Poetas de França. Trad. Guilherme de Almeida. 5.ed. São Paulo: Babel, s/d, p.79.

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