sábado, 16 de maio de 2015

Cecília Meireles

CANÇÃO DE ALTA NOITE

Alta noite, lua quieta,
muros finos, praia rasa.

Andar, andar, que um poeta
não precisa de casa.

Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.

Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.

Andar... — enquanto consente
Deus que seja a noite andada.

Porque o poeta, indiferente,
anda por andar — somente.
Não necessita de nada.

MEIRELES, Cecília. Antologia Poética. São Paulo: Global, 2013, p.42.

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