Esta é a melhor época do ano ― seu finzinho. Passou o
frisson do Natal, aquela expectativa midiática toda em torno de uma ceia que
poderia descambar em barracos natalinos. Sobreviveu-se aos próprios barracos, com
um arranhão ou outro, que um bom vinho e o analista vão resolver. São cinco
dias sagrados, entre 26 e 30 de dezembro, em que ainda se está em 2015 e ainda
não é 2016. Uma adorável suspensão de (quase) tudo, que permite ao ser
palmilhar a superfície das coisas, sem penetrá-las ou ser muito afetado por
elas. Um mar caribenho em que não se vislumbra qualquer pontinha de iceberg
desmancha-prazeres, porque o clima está ameno, agradável, está um clima
metafórico. No dia 31 começará a contagem regressiva para o novo ano, o Ano
Novo, e será dada a largada a uma nova maratona de sabe-se lá o que. Angústias,
incertezas, previsões e notícias ruins, ataques, mortes violentas, a crise
nossa de cada dia ― enfim, todo o rosário da desgraça humana a que Brás Cubas assistiu
em seu célebre delírio. Mas, por enquanto, nesses breves cinco dias, vive-se o
nirvana do tempo, um parêntese generoso nas (e das) solicitações, demandas e
necessidades.
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