A morte desafia as definições bem assentadas de
dicionário. Ela é um incômodo, um desconforto, um espinho fisgando a carne e afetando a alma. Uma dor, sobretudo, um fantasma rondando a lembrar que o fim de
todos é debaixo da terra, roídos por vermes e sem agasalho ou proteção em
noites de chuva. Alguma coisa da vida ou da consciência sobrevive à morte
física, orgânica, à morte do corpo? Se sim, haverá horror maior que morrer? Claro
que há: o catálogo de horrores desse mundo aquém-túmulo parece infindável e inesgotável,
mesmo porque a imaginação humana não cansa de buscar excitação em fantasias
macabras e aterrorizantes. Mas a morte não pertence ao domínio das
monstruosidades fabricadas pelo homem, que não obstante estão intrinsecamente
ligadas a ela. A morte, primariamente, pertence ao domínio da natureza. Não pode
ser evitada. E dói, como se fizesse parte da vida.