sábado, 28 de fevereiro de 2015

Orides Fontela

NARCISO (JOGOS)

Tudo
acontece no
espelho.

FONTELA, Orides. Poesia reunida. São Paulo: Cosac Naify: Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006, p.333.

Tudo?

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

sentimentos ínfimos (ou o desejo de silêncio)

Alhear-me, esquecer, não sentir (tanto) as pressões incessantes do mundo, contas (de variada natureza), cartas que chegam por todos os meios. O que simplesmente acontece. Fatos (abre aspas):

...fatos
são pedras duras.

Não há como fugir.

Fatos são palavras
ditas pelo mundo.


Alhear-me, e experimentar o supremo prazer de poder ficar quieta. 

a morte (sentimentos confusos)

A morte desafia as definições bem assentadas de dicionário. Ela é um incômodo, um desconforto, um espinho fisgando a carne e afetando a alma. Uma dor, sobretudo, um fantasma rondando a lembrar que o fim de todos é debaixo da terra, roídos por vermes e sem agasalho ou proteção em noites de chuva. Alguma coisa da vida ou da consciência sobrevive à morte física, orgânica, à morte do corpo? Se sim, haverá horror maior que morrer? Claro que há: o catálogo de horrores desse mundo aquém-túmulo parece infindável e inesgotável, mesmo porque a imaginação humana não cansa de buscar excitação em fantasias macabras e aterrorizantes. Mas a morte não pertence ao domínio das monstruosidades fabricadas pelo homem, que não obstante estão intrinsecamente ligadas a ela. A morte, primariamente, pertence ao domínio da natureza. Não pode ser evitada. E dói, como se fizesse parte da vida.