sexta-feira, 25 de março de 2016

Armando Freitas Filho

MARÇO

O verão ainda atira
com todos os canhões:
chumbo, céu e chão
e as chuvas não quebram
o teto do ar livre
de um negro tão preto
que só pensando
num branco absoluto
para obtê-lo, sem nuvens
para registro nesta folha
enquanto um rio que não molha
mas agulha
passa e arrepia tudo
com suas águas que são pontas
― pregos ― por favor
não olhe o que só quer sofrer
a seco, sem lágrimas.

FREITAS FILHO, Armando. Máquina de escrever: poesia reunida e revista. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003, p.449-450.

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