Amanhã uma diarista virá a minha casa fazer parte do
trabalho invisível que me mantém visível ― considerando o restrito mundo em que
me movimento. Na terça, nada desandando, serei ouvida, por uma hora ― provavelmente
menos, porque não aguento ― por uma analista que, por enquanto, tem
garantido... o que exatamente? Não sei. Toda vez que tenho ganas de deixar a
análise sinto o desamparo tomar conta e percebo que, se não ir lá falar, posso
comprometer um delicado equilíbrio psíquico que construí após a queda da última
fronteira que representava minha resistência, meu forte. Até os 40 desbravei sem medo tudo o que apareceu. Eu era mais eu. Depois,
alguma coisa se quebrou nessa confiança inabalável, e pela primeira vez eu
precisei admitir que não continuaria dando conta apenas com a fortaleza que
construí na juventude. Por isso, quando vêm com essa história de “bela, recatada e do lar”, eu digo, ok, meu irmão, todos sabemos
exatamente com quantos Rivotril se faz uma bela ― capaz de encarar
as necessidades da fera. Pobre Marcela. Traidora como o ditoso cônjuge. Para as que continuam lutando, um sol de primavera.
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