quinta-feira, 1 de julho de 2010

desenredo

Querendo ou não, o nome nos diz. Em torno do nome, vai-se criando uma espécie de nebulosa, em que gravitam apelidos, sensações, fotografias, retratos mentais, flagrantes da memória e uma movente identidade. Na literatura não poderia ser diferente. Uma das personagens mais famosas de Joyce tem um nome belíssimo, Anna Livia Plurabelle. Apaixonei-me pelo prenome, tranquilamente o aceitaria como meu. E, conforme já foi comentado pela crítica, a publicação, pelos irmãos Campos, do Panorama de Finnegans Wake teria influenciado a fatura de Tutaméia, de Guimarães Rosa, o que se faz notar no conto "Desenredo". A personagem feminina domina a trama, chamando-se Livíria, Rivília ou Irvília, conforme diz o narrador aos seus ouvintes. Nos jogos linguístico aparecem, de imediato, LíviaRiver Irlanda, além de outras possibilidades — lírio, vil, rivalidade e, por onomástica, Virília, nome que fica subentendido, com sua conotação tanto de sexualidade quando de aspecto vil, maldade, que a mulher traria associado a isso, o que remete à Eva. Mas, como se trata de um "desenredo", Eva, aqui, é finalmente perdoada. Não deixa de aparecer como Eva, portanto como culpada — Com elas quem pode, porém? Foi Adão dormir, e Eva nascer. (João Guimarães Rosa. Tutaméia: terceiras estórias. 8. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p.72). Mas sua culpa é redimida. Haverá outro jeito de desenredar essa história?

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