No conto “São Marcos”, de Guimarães Rosa, há um negro feiticeiro, João Mangolô, descrito pelo narrador como “velho de guerra, voluntário do mato nos tempos do Paraguai”. Trata-se, como se sabe, da guerra do Paraguai, ocorrida na segunda metade do decênio de 1860. As milícias cooptadas para lutar na guerra incluíam grande contingente de escravos – obrigados pelos senhores e/ou aos quais se acenava com a alforria. Essas milícias recebiam o nome de “Voluntários da Pátria”. É o que afirma Boris Fausto: “Calcula-se entre 135 mil e 200 mil o número de brasileiros mobilizados... As tropas foram organizadas com o Exército regular, os batalhões da Guarda Nacional e gente recrutada em sua maioria segundo os velhos métodos de recrutamento forçado que vinha da Colônia. Apesar disso, muitos foram integrados no corpo dos Voluntários da Pátria, como se tivessem se apresentado para combater por vontade própria. Senhores de escravos cederam cativos para lutar como soldados. Uma lei de 1866 concedeu liberdade aos ‘escravos da nação que servissem ao Exército’. A lei se referia aos africanos entrados ilegalmente no país, após a extinção do tráfico, que haviam sido apreendidos e se encontravam sob a guarda do governo imperial.” (FAUSTO, Boris. História do Brasil. 9. ed. São Paulo: Edusp; Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 2001, p. 213-214).
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