quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Clarice Lispector: "Miopia Progressiva" (trecho final)

"E foi como se a miopia passasse e ele visse claramente o mundo. O relance mais profundo e simples que teve da espécie de universo em que vivia e onde viveria. Não um relance de pensamento. Foi apenas como se ele tivesse tirado os óculos, e a miopia mesmo é que o fizesse enxergar. Talvez tenha sido a partir de então que pegou um hábito para o resto da vida: cada vez que a confusão aumentava e ele enxergava pouco, tirava os óculos sob o disfarce de limpá-los e, sem óculos, fitava o interlocutor com uma fixidez reverberada de cego." (Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p.24.)

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