quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Mário Faustino

ODE

“Esta manhã o ar estava cheio de anjos”
e sua súbita beleza era quase invisível

A manhã era os mesmos e transparentes anjos
e seus frágeis caminhos eram quase visíveis

Agora é noite e um anjo desgarrado
debate-se impotente no pegajoso mar

Numa praia distante suas asas são algas
e misteriosamente a noite está deserta

Ouço o teu canto pobre anjo decaído
mas estou preso e o abutre me contempla

Por que amaldiçoas quem imortal te fez?
a manhã não tem culpa se não vem nunca mais

cheia de anjos indecisos caminhando
sem pés sobre os caminhos do ar

Por que o desespero alma esquecida?
É teu consolo o teres sido um anjo

FAUSTINO, Mário. O homem e sua hora e outros poemas. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009, p.205.

Nota: é sempre bom não perder de vista as observações que Sérgio Alcides fez acerca desta edição da poesia de Mário Faustino (aqui).

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