Numa aula para o 6º ano, a frase banal “disse ele com malícia” levou um aluno a ler (enxergar) milícia em vez de malícia. Trabalho na zona oeste, região fortemente dominada por milícias, estranhas organizações que ocuparam as brechas deixadas pelo Estado, que aliás nunca se importou mesmo com elas, inclusive deixando-as escandalosamente se alargarem, até o momento em que se viu desafiado. Um século de descaso, desde a belle époque, ia acabar mesmo nisso. Então, ao modo do filme de Victor Erice, O espírito da colmeia, na linguagem vão se desenhando os contornos daquilo que vai aos poucos se entranhando no cotidiano das pessoas, imperceptivelmente. E no cotidiano a linguagem vai desenhando novas cartografias.
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