Havia um exame a fazer, em centro médico localizado num grande shopping da cidade, com uma reserva de tempo. Primeiro passei na Fnac, mas estava muito cheia; dirigi-me então para a Travessa, onde, quando esses parênteses de tempo acontecem, pego dois ou três livros e procuro um sofá para ler um pouco. Os sofás confortáveis estavam todos ocupados, mas logo um desocupou. A ascensão do romance, de Ian Watt, não despertou meu interesse, pelo menos naquele contexto: não queria teoria. Fui percorrendo as páginas dos sonhos de Kafka (mas a tradução não era assinada pelo Modesto Carone), e fiquei abismada com a franqueza com que ele os expunha, alguns bastante bizarros, para as suas namoradas. Acima de tudo, com seu envolvimento com o mundo onírico. Deixei os pesadelos kafkianos de lado e comecei a ler O duplo, de Dostoievski, mas a confusão mental do protagonista crescia numa proporção geométrica com o avançar das páginas, juntando-se à minha, e mesmo já estava na hora do exame. Quando vou a livrarias e bibliotecas sinto um apaziguamento incomum. Deve ser a companhia.
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