domingo, 8 de janeiro de 2012

Jorge de Lima: Invenção de Orfeu

[Canto Primeiro, Fundação da Ilha, XXVI]

Qualquer que seja a chuva desses campos
devemos esperar pelos estios;
e ao chegar os serões e os fiéis enganos
amar os sonhos que restarem frios.

Porém se não surgir o que sonhamos
e os ninhos imortais forem vazios,
há de haver pelo menos por ali
os pássaros que nós idealizamos.

Feliz de quem com cânticos se esconde
e julga tê-los em seus próprios bicos,
e ao bico alheio em cânticos responde.

E vendo em torno as mais terríveis cenas,
possa mirar-se as asas depenadas
e contentar-se com as secretas penas.

LIMA, Jorge de. Invenção de Orfeu. São Paulo: Ediouro, s/d, p.30-31.

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