quinta-feira, 17 de maio de 2012

Ferreira Gullar

OVNI

Sou uma coisa entre coisas
O espelho me reflete
Eu (meus
olhos)
reflito o espelho

Se me afasto um passo
o espelho me esquece:
― reflete a parede
   a janela aberta

Eu guardo o espelho
o espelho não me guarda
(eu guardo o espelho
a janela a parede
rosa
eu guardo a mim mesmo
refletido nele):
sou possivelmente
uma coisa onde o tempo
deu defeito.

Ferreira Gullar. Toda poesia. 19.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010, p.328.

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