Michel Foucault.
— Esta dificuldade — nosso embaraço em encontrar as formas de luta adequadas —
não virá de que ainda ignoramos o que é o poder? Afinal de contas, foi preciso
esperar o século XIX para saber o que era a exploração, mas talvez ainda não se
saiba o que é o poder. E Marx e Freud talvez não sejam suficientes para nos
ajudar a conhecer esta coisa tão enigmática, ao mesmo tempo visível e
invisível, presente e oculta, investida em toda parte, que se chama poder. A
teoria do Estado, a análise tradicional dos aparelhos de Estado sem dúvida não
esgotam o campo de exercício e de funcionamento do poder. Existe atualmente um
grande desconhecido: quem exerce o poder? Onde o exerce? Atualmente se sabe,
mais ou menos, quem explora, para onde vai o lucro, por que mãos ele passa e
onde ele se reinveste, mas o poder... Sabe-se muito bem que não são os
governantes que o detêm. Mas a noção de "classe dirigente" nem é
muito clara nem muito elaborada. "Dominar", "dirigir", "governar",
"grupo no poder", "aparelho de Estado", etc., é todo um
conjunto de noções que exige análise. Além disso, seria necessário saber até
onde se exerce o poder, através de que revezamentos e até que instâncias, frequentemente
ínfimas, de controle, de vigilância, de proibições, de coerções. Onde há poder,
ele se exerce. Ninguém é, propriamente falando, seu titular; e, no entanto, ele
sempre se exerce em determinada direção, com uns de um lado e outros do outro;
não se sabe ao certo quem o detém; mas se sabe quem não o possui.
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