Sou essencialmente melancólica — a vida me parece
quase sempre um circo trágico. Ao mesmo tempo, coexistindo com isso, tenho um senso
de humor constante, que me faz rir do que em princípio poderia parecer sem
graça. Exemplo? Certas passagens de Machado de Assis, como esta, de “O
alienista”: “Verdade é que, se todos os gostos fossem iguais, o que seria do
amarelo?” Machado está falando de uma coisa séria, e de repente introduz uma
comparação que quebra a seriedade do tema e confirma a falta de sentido da
ciência do alienista, comparação que é, também, muito próxima do senso comum. Deve
ser isso que faz rir, produz a comicidade. E também imaginar o próprio Machado
escrevendo isso, pilheriando com o leitor.
sexta-feira, 31 de julho de 2015
quarta à noite
Na quarta, bar ótimo, cerveja boa e amigos dando show
de interpretação de “Heart of Gold”. Nem tudo é notícia ruim — e o bar fica
perto de casa.
terça-feira, 28 de julho de 2015
oitavo andar
Moro no oitavo andar, como diz a música. Na verdade,
contando o play e os dois pisos de garagem, moro no 11º. Trata-se de imóvel
alugado, cujo contrato, recentemente renovado, encerra-se em 2017. Como o condomínio
do prédio deixa muito a desejar, impõe-se, quando o contrato encerrar, procurar
outro imóvel, maior de preferência. Também alugado. E de novo em andar alto. A maré econômica não está dando trégua, e torna-se remota a hipótese de financiar
um imóvel — as condições (entrada e juros) pegaram o elevador da crise, resposta para quase tudo que está
ruim no país. Aos bancos e aos graúdos que estão no comando da economia do país não
interessa que o brasileiro comum tenha condições facilitadas, humanas, de adquirir
um imóvel. Então se aluga um. De mais a mais, a que (ou a quem) ainda serve o
sonho da casa própria? Que mito se esconde aí? Talvez o de poder bater um prego
na parede sem ter que explicá-lo (depois). Ao diabo todos os proprietários de
imóvel, que impõem, mediante o disfarce da lei, condições azedas a quem
simplesmente quer morar em paz, pagando em dia por isso. Ao diabo.