sábado, 7 de novembro de 2015

um pais sem alma

“Há sempre um copo de mar / para um homem navegar” ― disse o poeta. Por que nós, achados por outro navegantes, nos esquecemos tão depressa do mar? Estamos afundando na lama, mais real que nossas piores alucinações coletivas. Enquanto isso, o nobre deputado vai na televisão dizer que nada é o que parece ser. Meu Deus! Até quando suportaremos?

terça-feira, 3 de novembro de 2015

o ciclo da natureza

Ontem foi dia dos mortos. Saí para a caminhada habitual, a recomendada pelos médicos, de fim de tarde. A chuva (também) habitual da data começou enfim a cair, no momento em que saía. Sendo pouca, prossegui. Mas logo engrossou, assumiu ares de chuva de finados. Não recuei. Ao contrário, deixei que a chuva me lavasse e quem sabe levasse um pouco da ansiedade, da respiração opressa. Já quando retornava, quase chegando em casa, me dei conta de que aquela mesma chuva estará um dia encharcando o chão onde estarei enterrada. E senti um enorme sufoco, uma falta de ar, e desejei viver, continuar vivendo, simplesmente, por muito tempo, enquanto a mim isso for concedido. 

Ah!

Procurei uma palavra sob que me proteger. Pensei na palavra paz. Mas logo percebi o engodo. A palavra paz não protege, não guarda ninguém. Ela é pequena demais para isso, escudo impróprio, e tem no centro um enorme a, vogal aberta, vazada, que a tudo dá passagem.

domingo, 1 de novembro de 2015