Ir ao mercado tornou-se um exercício dramático de
descapitalização ― e de votos de abstinência: vou me abster do palmito; vou me
abster do tomate; vou restringir a cebola. Do pão não preciso me abster, pois
já não faz mais parte da dieta há algum tempo. O que sinto, percebo, é que as
pessoas estão sendo maltratadas nessa alta abusiva de preços, e em muitas outras situações. Em nome de
índices fabricados e de contas amargas, os preços dos produtos de consumo diário
dispararam, não sem uma dose de má-fé por parte dos donos de estabelecimentos
comerciais. Em novembro do ano passado, diante da oferta de maçãs avariadas e hiper
inflacionadas, tive um choque de realidade no mercado e considerei a
possibilidade de ir a Brasília dar uma bifa na cara de Eduardo Cunha, o
político mais sórdido do país nos últimos anos. Porque é claro que há uma
relação entre os podres poderes e as maçãs podres, oferecidas aos pobres. Não
fui, claro; perderia meu emprego e ganharia problemas com a justiça. O
brasileiro reclama, com razão, do preço do pão, do tomate, da cebola. O melhor
conselho que ouvi foi também no mercado: deixa apodrecer, não compra.
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