domingo, 24 de abril de 2016

Augusto dos Anjos

O POETA DO HEDIONDO

Sofro aceleradíssimas pancadas 
No coração. Ataca-me a existência 
A mortificadora coalescência 
Das desgraças humanas congregadas! 

Em alucinatórias cavalgadas, 
Eu sinto, então, sondando-me a consciência 
A ultra-inquisitorial clarividência 
De todas as neuronas acordadas! 

Quanto me dói no cérebro esta sonda! 
Ah! Certamente eu sou a mais hedionda 
Generalização do Desconforto... 

Eu sou aquele que ficou sozinho 
Cantando sobre os ossos do caminho 
A poesia de tudo quanto é morto! 

Augusto dos Anjos. Eu e outras poesias. Rio de Janeiro: Betrand Brasil, 2010, p.193.


Hediondo. Adjetivo. 1 que apresenta deformidade; que causa horror; repulsivo, horrível. Ex.: rosto h. 2. Derivação: sentido figurado. que provoca reação de grande indignação moral; ignóbil, pavoroso, repulsivo. Ex.: traição h., crime h. 

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