quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Dora Ferreira da Silva

DISSE A SOMBRA...

Disse a sombra ao sol: “Eu passo”
E ele ― rubicundo de mormaço ―
responde: “Mais devagar também caminho
enquanto alongas tuas pernas desmedidas.”

Ao meio-dia diz a sombra: “Em ti dormito,
oculta em teu novelo de verdades
tão claras, que o olhar dos homens velas.”

“Em mim dormitas?” diz o sol zangado.
“E eu pensando ser a luz tamanha
que sombra alguma em  mim repousaria
antes da negra noite apagar meu dia.”

Dora Ferreira da Silva. Poesia reunida. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999, p.334.

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