Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
sábado, 9 de novembro de 2013
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
uma boa notícia
Não
estamos (muito) sós no Universo. E o ser humano talvez não seja a última bolacha
do pacote, algo de que sua arrogância tem dado mostras.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Álvaro de Campos
[...]
Ah, quando nos
fazemos ao mar
Quando largamos da terra, quando a vamos perdendo de vista,
Quando tudo se vai enchendo de vento puramente marítimo,
Quando a costa se torna uma linha sombria,
Nessa linha cada vez mais vaga no anoitecer (pairam luzes) —
Ah então que alegria de liberdade para quem se sente.
Cessa de haver razão para existir socialmente.
Não há já razões para amar, odiar, dever,
Não há já leis, não há mágoas que tenham sabor humano...
Há só a Partida Abstracta, o movimento das águas
O movimento do afastamento, o som
Das ondas arrulhando à proa,
E uma grande paz intranquila entrando suave, no espírito.
Poesia
completa de Álvaro de Campos. Ed. Teresa Rita Lopes. São Paulo:
Companhia de Bolso, 2007, p.219.
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
sentimentos mínimos
A diferença entre saber-se e sentir-se insignificante
é dada pela angústia que se sente diante do sentimento da insignificância, uma
percepção que empurra para a escrita.
Paulo Henriques Britto
Viver momento a momento
com a insensatez dos insetos
que arremetem impávidos
contra o real da vidraça
obedecendo sem trégua
à lógica imperturbável
que trazem em suas entranhas.
Paulo Henriques Britto. Formas do nada. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 62.
Assinar:
Postagens (Atom)