Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
Giacomo Leopardi
A SI MESMO
Enfim repousas sempre,
Meu lasso coração. Findo
é o engano
Que perpétuo julguei. Findou.
Bem sinto
Que em nós dos caros
erros
Mais que a esperança, o
próprio anelo é extinto.
Repousa sempre. Muito
Palpitaste. Nenhuma
coisa vale
Teus impulsos, nem digna
é de suspiros
A terra. Nojo e tédio
É a vida, nada mais, e
lama é o mundo.
Repousa. E desespera
A última vez. À nossa
espécie o fado
Não deu mais que o
morrer. Enfim despreza
A natureza, o rudo
Poder que, oculto, o
comum dano gera
E a vacuidade sem final de
tudo.
Cinco
séculos de poesia. Org. e trad. Alexei Bueno. Rio de
Janeiro: Record, 2013, p.47.
domingo, 28 de julho de 2013
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