Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
terça-feira, 22 de outubro de 2013
acordar
O ruído do ar condicionado
Avisa que amanheceu.
Há um microclima no quarto
Traduzível como o prazer de estar vivo,
Enquanto o mundo soa-me
Um espaço contíguo
Onde outros vivos se movem.
domingo, 20 de outubro de 2013
Paulo Henriques Britto
POÉTICA PRÁTICA
A realidade é um calhamaço
insuportável?
Tragam-me então resumos.
A vida que se leva é um filme inassistível?
Vejamos só os anúncios.
Tragam-me então resumos.
A vida que se leva é um filme inassistível?
Vejamos só os anúncios.
São os limites do corpo intrusões malignas
de um demiurgo escroto?
O corpo não é preciso, e o espírito é impreciso:
eu não é um nem outro.
de um demiurgo escroto?
O corpo não é preciso, e o espírito é impreciso:
eu não é um nem outro.
Anda inconveniente a tal da poesia,
a significar?
Nada como um bom significante vazio
para abolir o azar.
a significar?
Nada como um bom significante vazio
para abolir o azar.
Paulo Henriques Britto. Formas do nada. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 18.
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