Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 23 de junho de 2012

a m o r

Tudo é passível de aperfeiçoamento ― sentimento que me veio a partir da confluência de um trecho do conto “Amor”, de Clarice Lispector, com impressões soltas da primeira semana de casa nova, em que me descobri com vontade de cuidar ― e efetivamente cuidando ― do lugar em que moro.

dave matthews and tim reynolds: all along the watchtower

sexta-feira, 22 de junho de 2012

álvaro de campos senhor de si e de sua poesia

(...)
Tenho desejo forte,
E o meu desejo, porque é forte, entra na substância do mundo.
                                       
PESSOA, Fernando. Poesia completa de Álvaro de Campos. Ed. Teresa Rita Lopes. São Paulo: Companhia de Bolso, 2007, p.233.

números e enganos

Como fiz letras, declinei de entender de contas e números mais sofisticados, como esses com que o governo, os economistas e os tecnocratas nos enganam. Mas penso que enveredar pela ficção é ser mais bem enganado.

até que o infinito nos separe

Agora moro no 803, números que se completam e se (con)fundem. Como música de fundo, o magnífico CD Milagre dos Peixes.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

moldura para tv

Nas Casas Bahia, ao tentar comprar uma estante, ouço do vendedor, diante das opções disponíveis, simples molduras de TV LCD: “Não sei o que está acontecendo, as pessoas não estão mais lendo.”

sair do eterno retorno

No rasto deixado pelas amizades perdidas, uma constatação: minha baixa imunidade à intimidade. Em todas as amizades que perdi ou abandonei não suportei alguma coisa que só posso chamar de excesso do outro em mim. De tal forma que não consigo saber se perdi ou provoquei a perda. Há qualquer coisa de incompetência nisso, um viver eternamente amador, uma dificuldade incrível de perceber limites. Pois, se é para (se) afastar depois, por que permitir a aproximação? Talvez pela esperança, tímida, de que a vida surpreenda.

m a r c a d o r e s

Uma utilidade para os marcadores: apagar em bloco textos e postagens com prazo de validade vencido.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

vida fora de equilíbrio

Terão os representantes da cúpula da Rio+20 assistido a Koyaanisqatsi?

o silêncio de onde não estamos

Hermenegildo Sábat, Paisaje con oreja, 1975.
(acessado aqui)

C E R T E Z A S

“Distinguirei, no fenômeno chamado certeza, a parte subjetiva e a objetiva ― a certeza em si, e aquilo de que há certeza. Considerada em si, a certeza nada vale. Nenhum de nós tem mais certeza de ter diante de si esta página que tem um perseguido de estar sendo perseguido por numerosos ‘inimigos’, ou um megalômano de ser Jesus Cristo, ou Deus, ou Imperador do Mundo. O lugar das certezas absolutas, inteiras, que não sentem dúvida nem hesitação, é o manicômio.”

Fernando Pessoa, Textos filosóficos, vol. II, p. 246 (AQUI).

terça-feira, 19 de junho de 2012

flor-de-índio

Enfim, para trás ficaram a casa e alguns sonhos. No novo lar, ainda a surpresa momentânea de agora encontrar-me aqui, e não mais lá. Nas Casas Bahia, onde fui buscar complemento para poder habitar a nova casa, surpreendi-me com a singeleza de meu penúltimo endereço em Belo Horizonte (um antigo cadastro, mantido pelo site): Rua Flor-de-Índio, bairro Liberdade. Foi lá que comecei a vir para o Rio de Janeiro, através da notícia do concurso, enquanto me mudava para o Centro, Av. Augusto de Lima. Morei em muitas ruas, cujos nomes evaporaram de minha lembrança. Não lembro mais o nome da rua em que residi no bairro Sagrada Família, nem da que morei em Estrelinha (Vitória-ES). O acaso de um registro datado trouxe-me a singeleza de um nome de rua, onde muita coisa se deu.

zona de conforto

"Viver é desencontrar-se consigo mesmo." - Álvaro de Campos