Tenho um perfil mais ou menos consolidado na profissão
docente, uma espécie de respeito associado ao bom convívio com os/as estudantes
e os/as colegas de profissão. Pois bem. Ontem uma estudante da 3ª série do
ensino médio conseguiu se superar. Venho percebendo o descaso de parte de uma
turma de 3ª série com a disciplina de Português e Literatura, no retorno das
aulas após o recesso do meio do ano. Ontem decidi não esperar mais e coloquei a
roda para girar. Uma estudante continuou no pátio, depois de me ver subindo
para a turma, enquanto alguns outros estavam simplesmente à deriva, numa postura
que vem se repetindo nas últimas semanas. Quando retornei da sala para mandar
um grupo de atrasados à bedelaria, a estudante lançou mão de alguns argumentos
curiosos. Um deles foi sintomático da crise que atravessa o Brasil: Mas minha
mochila está na sala, professora. Numa semana em que discuti o poema “O
cacto” de Manuel Bandeira, paralelamente à presença dessa estranha forma de
vida na pintura modernista brasileira, uma estudante me diz que tem coisas mais
importantes a fazer do que assistir à aula, e pede que eu seja compreensiva,
pois, afinal, sua mochila está na sala.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.