Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 1 de julho de 2010

em busca da terra do nunca

As fortes imagens divulgadas pela mídia mostrando a devastação provocada pela chuva no Nordeste (aqui) fazem pensar que a pergunta "que país é este?" já não faz mais sentido, pois simplesmente o país tornou-se incapaz de se pensar, e portanto de respondê-la. Na mesma semana em que essa tragédia coletiva aconteceu, um político como Paulo Maluf veio a público dizer que sua ficha é a mais limpa do Brasil, afirmação cujo notório teor de desrespeito aos habitantes do país só passou batido porque estamos em pleno mundial de futebol. Quer dizer, ele fala assim porque confia na progressiva imbecilização coletiva, que faz com que ladrões e corruptos como ele continuem circulando livremente por aí, inclusive com o direito de se elegerem a um mandato político. Quem me representa politicamente? Em quem estou votando a cada eleição? Cargos políticos são de longo prazo, pois em geral os mandatários tendem a se perpetuar neles, fazendo da política uma estranha profissão, cujas manhas se aprendem na prática do ofício. E já que o assunto é futebol, um slogan recente, afixado num carro: "Sou brasileiro. Sou campeão". De quê?

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