O fiador consta como uma
das exigências para alugar um imóvel no Brasil. A alternativa é o pagamento de
um seguro fiança, que se torna, na verdade, a única saída. A não ser que se
queira enredar-se numa atrapalhação burocrática que já seria algo kafkiano se
incomodasse apenas o locatário. Qualquer pessoa com menos estômago diz não e
pergunta qual o montante do cheque para o atalho. O fiador é uma instituição
arcaica o suficiente para mostrar que ainda estamos longe de ser um povo (pois
falar em nação é certamente algo hiperbólico) emancipado de sua condição
colonial. Uma nação livre não poderia constranger dessa forma àqueles que, na
Constituição, chama de cidadãos.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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