Respiração artificial,
de Ricardo Piglia, é diferente de tudo que já li: posso dizer mesmo uma grata
surpresa. É um romance político, e embora certos nomes citados possam não ser
familiares ao leitor não argentino, isso não impede, de forma alguma, perceber e
apreciar a intrincada trama literária que o escritor arma para tenta capturar
a história, ou melhor, as águas da história, como uma das personagens diz. Há
passagens memoráveis, como esta:
“E
então? Um círculo. Uma morte atrás da outra. Muito bem: onde começa essa cadeia
que encadeia os anos para vir se encerrar comigo? Como começa? Não deveria ser
essa a substância de meu relato? A origem? Porque se não, para que contar? De que serve,
jovem, contar, se não for para apagar da memória tudo o que não for a origem e
o fim?” (p.50). “(...) porque tudo que contamos se perde, se afasta. Contar, então, é para mim uma maneira de
apagar dos afluentes de minha memória aquilo que quero manter para sempre
afastado de meu corpo.” (p.48) Ricardo Piglia. Respiração artificial. Trad. Heloisa Jahn. São Paulo: Companhia das
Letras, 2010.
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