Quando se toma certa distância, não há mais como
voltar. Mas então torna-se possível ― quer dizer, as condições de possibilidade surgem ―, torna-se
possível descobrir que a distância foi a proteção que o corpo ― e tudo que nele vai ― pediu para se resguardar de
qualquer coisa muito violenta, farejada antes de tudo pela intuição. A
distância pode até parecer exílio para quem admite um centro para tudo. Mas
quando não há mais centro, e a única realidade tangível é o corpo que se
possui, então argumentar em termos de distância é apenas uma forma de demarcar
uma nova geografia dos sentimentos e afetos.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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