Há visões ― cenas ― beirando o insuportável. No entanto,
parece ser impossível esquivar-se delas, a não ser que se pudesse retroceder ao
útero materno. O que quer dizer que acaba se encontrando um meio de
suportá-las, porque este é mesmo o preço que se paga para viver. Não são, a
rigor, insuportáveis, embora a consciência procure rápido anestésicos para
lidar com elas. Um deles é o consumo. No entanto, o único consolo para o dado
insuportável da existência é o amor. A redenção possível.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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