Pensando bem, nem é
estranho que a literatura (vale dizer, o que se encontra pressuposto neste
termo) tenha se tornado um destino para mim: na infância, o conto da carochinha
que me foi contado foram histórias de assombração de variado calibre ― o espírito da mata que
assustava caçadores noturnos; o caixão que pesava sobre um carro passando, à
noite, diante de um cemitério à beira da estrada; o diabo que veio pessoalmente
dar uma surra, com suas poderosas línguas de fogo, num homem que havia duvidado de
sua existência; mortos que apareciam a seus parentes... Fora a história da “fera da Penha”.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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