E se o meu ser pudesse se repartir a cada momento,
como se não houvesse um único eu? Os
momentos sucedendo-se não linearmente, uma espécie de bifurcação contínua da
vida. Haveria essa coisa chamada tempo? Este constante instante existe, mas
parece que uma única possibilidade é trilhada, fazendo da vida uma linha
imaginária e perceptível pela memória. Mas e se por exemplo agora, quando a
inquietação me invade, eu conseguisse, ainda que com os andrajos rotos do eu que
reconheço como eu, eu conseguisse ir na direção da desintegração do átomo do
eu? A noite ficaria mais leve. Uma justificativa para se contar / ler histórias antes de dormir: diminuir a densidade do eu, para que ele consiga flutuar nas águas do sono.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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