Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 30 de junho de 2013

Iago

“Anda, vai; adeus! Põe dinheiro em tua bolsa.
(sai Rodrigo)
Faço assim de meu bobo minha bolsa.
Seria profanar o que aprendi
Gastar meu tempo com um palerma desses
Senão pra lucro meu; odeio o Mouro,
E dizem por aí que em meus lençóis
Ele fez meu papel; não sei se é certo...
Mas, para mim, só suspeitar é o mesmo
Que certeza, no caso. Ele me estima,
O que me facilita abusar dele.”

William Shakespeare. Otelo, o mouro de Veneza. Trad. Bárbara Heliodora. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011, p.39.

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