Provavelmente está fazendo um calor de rachar lá fora.
O sol imperioso e implacável faz concordar com Aluísio Azevedo. É feriado, e alguns
poucos transeuntes se arriscam pela avenida, movidos por necessidades que o receio
do calor e do sol não venceu — e afinal nem todos se importam com isso. Há
obviamente os carros, incessantes, e as praias cariocas devem estar cheias. Felizmente
não preciso sair de casa hoje, e mesmo a feira pode esperar. Nenhuma
necessidade me assalta, a ponto de eu ter de sair sob esse sol tirânico. E em
casa consigo me proteger do calor ligando o ar condicionado. Uma amiga ilustre
concorda: “no Brasil ar-refrigerado não é um luxo, é uma necessidade.”
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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