Dentro da noite que construo aos
poucos
para meu próprio uso, tudo é sombra
em que repouse a vista, salvo a lua
eventual, que me ilumine o espaço
que falta eliminar e meça o tempo
em que me esqueço a contemplar o
tédio
que descasco e rejeito, em que
dispenso
a luz do dia, excesso que não quero
ou não mereço, luxo que desprezo
sem sombra de arrependimento ou
luto.
Aqui onde me resto tudo é meu
e mudo, e a noite me cai muito leve
sobre os ombros frios, como um manto,
ou como
um outro pano mais definitivo.
Paulo Henriques Britto. Mínima lírica. 2.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2013,
p.27.
Nenhum comentário:
Postar um comentário