Há uma semana faz um sol imperioso aqui no Rio de
Janeiro — absoluto, quente, sem nuvens para amenizar. O calor, sem exagero,
está infernal, e as praias, lotadas. Em particular sinto-me refém, saindo de
casa apenas para o necessário e optando por não duelar com o sol — o fim de
tarde e a noite tornaram-se horários alternativos para sair, inclusive ir à
praia e entrar no mar sem sentir que a pele está sendo devorada pelo sol. Acredito
que muitos tenham o mesmo sentimento, e olham as praias lotadas com
indiferença. O ar condicionado é indispensável para dormir. Mas, mas, mas... aqui
não temos a pena de morte — pelo menos oficialmente. Parece hipócrita o que estou
dizendo, e em muitos sentidos talvez o seja. Implica a visão a partir de um
certo lugar social. Mas quando vejo comentários raivosos na internet desejando
a implementação da pena capital no país, me espanto e me pergunto de onde vem
tanto ódio.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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