Minha miopia tem me feito enxergar tudo meio lento —
os Correios, o retorno das ligações dadas, a internet, as operações básicas da vida. A paciência
precisa ser de Jó, mas a ansiedade é moderna, contemporânea, não é fenômeno que
se possa aferir com parâmetros bíblicos. Leio sobre meditação e técnicas de
respiração, mas é preciso pagar para se iniciar nesses saberes milenares — quem
sabe os mesmos que permitiram a Jó esperar tanto —, além de sair de casa, fazer
contatos, mandar e-mails, dar telefonemas, encontrar espaço na agenda, coisas
que via de regra mais chateiam que acalmam. Tento imaginar o mundo em que essas
técnicas de desacelaração foram criadas, forjadas, elaboradas. Não consigo. Enquanto
isso o país parece estar caminhando para um nó, cujo desfecho vai ser certamente
desagradável.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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