Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 29 de março de 2015

Herberto Helder

A poesia também pode ser isso:
a dor com que não durmo lavrado completamente
íngremes laborações dos aerólitos — e então um pingo de ouro nos
                                                                                recessos
do cérebro. Que fosse a aparição contínua. Pode ser o inventário do
                                                                               sono pode
no casulo desdobrado quando a seda.
(...)
Herberto Helder. Ou o poema contínuo. São Paulo: A Girafa, 2006, p.457.

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