"Agora,
a insignificância me aparece sob um ponto de vista totalmente diferente de
então, sob uma luz mais forte, mais reveladora. A insignificância, meu amigo, é
a essência da existência. Ela está conosco em toda parte e sempre. Ela está
presente mesmo ali onde ninguém quer vê-la: nos horrores, nas lutas sangrentas,
nas piores desgraças. Isso exige muitas vezes coragem para reconhecê-la em
condições tão dramáticas e para chamá-la pelo nome. Mas não se trata apenas de
reconhecê-la, é preciso amar a insignificância, é preciso aprender a amá-la.
Aqui, neste parque, diante de nós, olhe, meu amigo, ela está presente com toda
a evidência, com toda a sua inocência, com toda a sua beleza. Sim, sua beleza.
Como você mesmo disse: a animação perfeita...e completamente inútil, as
crianças rindo...sem saber por quê, não é lindo? Respire, D'ardelo, meu amigo,
respire essa insignificância que nos cerca, ela é a chave da sabedoria, ela é a
chave do bom humor..." (Kundera in A festa da insignificância)
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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