Moro no oitavo andar, como diz a música. Na verdade,
contando o play e os dois pisos de garagem, moro no 11º. Trata-se de imóvel
alugado, cujo contrato, recentemente renovado, encerra-se em 2017. Como o condomínio
do prédio deixa muito a desejar, impõe-se, quando o contrato encerrar, procurar
outro imóvel, maior de preferência. Também alugado. E de novo em andar alto. A maré econômica não está dando trégua, e torna-se remota a hipótese de financiar
um imóvel — as condições (entrada e juros) pegaram o elevador da crise, resposta para quase tudo que está
ruim no país. Aos bancos e aos graúdos que estão no comando da economia do país não
interessa que o brasileiro comum tenha condições facilitadas, humanas, de adquirir
um imóvel. Então se aluga um. De mais a mais, a que (ou a quem) ainda serve o
sonho da casa própria? Que mito se esconde aí? Talvez o de poder bater um prego
na parede sem ter que explicá-lo (depois). Ao diabo todos os proprietários de
imóvel, que impõem, mediante o disfarce da lei, condições azedas a quem
simplesmente quer morar em paz, pagando em dia por isso. Ao diabo.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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