O cinema educa. A televisão, via de regra, vulgariza.
Dito isso, devo confessar que a netflix me reconciliou com a rotina de assistir
filmes, da qual tinha me apartado desde que me mudei para o Rio, há sete anos.
Por que não vou ao cinema morando na cidade maravilhosa? Pela distância,
basicamente, o que inclui os percalços do trajeto, digo, do acesso. Em segundo
lugar, pelos valores impraticáveis dos ingressos. A isso se soma certa falta de
paciência com o público, tanto aquele das grandes redes de cinema abrigadas em
shoppings, quanto o outro, em tese mais sofisticado, dito cult, com ar intelectualizado. Nos dois casos, talvez seja mesmo apenas
preconceito meu. Ambos conversam durante os filmes, abrem latas de
refrigerante, fazem barulho com seus pacotes enormes e caros de pipoca, e isso
é o que mais (me) aborrece, porque afinal é um serviço pago, em que o silêncio deveria ser princípio e não regra, e o público que frequenta
cinema no Brasil foi educado pela TV.
Então a netflix foi um achado. Aqui cito uma pérola
de Paulo Leminski: “podem ficar com a realidade / esse baixo astral / em que
tudo entra pelo cano // eu quero viver de verdade / eu fico com o cinema
americano”. E com o independente, o iraniano, o francês, o europeu...
Qualquer história boa e bem contada, exceto os filmes de terror. Um detalhe
interessante: na última sequência de filmes a que assisti, regalia permitida
pelas férias, percebi que a trapaça sustenta boa parte dos personagens mais
interessantes do cinema. Trapaça, aqui, no sentido de propensão à mentira, aos
truques, a uma imaginação que leva-os a convencer e dominar os demais,
espectador incluído. É o que se pode observar, por exemplo, no ótimo
Headhunters (2012). São sedutores, os trapaceiros.
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