Já faz certo tempo que venho censurando em mim
qualquer forma de inocência. Não é um processo consciente. Antes, é uma atenção
muda e tensa aos movimentos ao meu redor. Mas certamente a inocência presente,
aquela que ainda não se revelou como tal, deve escapar ao cerco. E então há a
dor da incerteza em relação... em relação a quê? Pois é, não sei.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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