Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 10 de julho de 2016

saturday night suburbano

Loucos passam acelerando e fazendo roncar suas motocicletas na rua em que moro, em plena luz do dia. Eu gostaria de poder entendê-los, dentro dessa dimensão ampla do que se chama “compreensão”, que inclui a bondade em relação ao próximo. Mas não consigo. Então os chamo de “loucos”, modo preconceituoso de nomear (no caso, um falso elogio) o que não se conhece. Não suporto barulho acima de certo grau. E minha vizinhança vem se excedendo no barulho: as festas caretas do saturday night suburbano, incluindo aquelas voltadas para crianças, de estourar os tímpanos; o mais novo bar-boteco da esquina, com um karaokê ofensivo aos ouvidos. Barulho acima de certo grau ― cada uma sabe o seu ―, em áreas residenciais, é falta de educação. 

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