SIGLAS
Luis Fernando Verissimo
― Bota aí: “P”
― “P”? ― De “Partido”. ― Ah. ― Nossa proposta qual é? De união, certo? Acho que a palavra “União” deve constar o nome. ― Certo. Partido de União... ― Mobilizadora! ― Boa! Dá a ideia de ação, de congraçamento dinâmico. Partido da União Mobilizadora. Como é que fica a sigla? ― PUM. ― Não sei não... ― É. Vamos tentar outro. Deixa ver. “P”... ― “P” é tranquilo. ― Acho que “Social” tem que constar. ― Claro. Partido Social... ― Trabalhista? ― Fica PST. Não dá. ― É. Iam acabar nos chamando de “Ei, você”. ― E mesmo “trabalhista”, não sei. Alguém aqui é trabalhista? ― Isso é o de menos. Vamos ver. “P”... ― Quem sabe a gente esquece o “P”? ― É. O “P” atrapalha. Bota “A”, de Aliança. Aliança Inovadora... ― AI. ― Que foi? ― Não. A sigla. Fica AI. ― Espera. Eu ainda não terminei. Aliança Inovadora... de Arregimentação Institucional. ― AIAI... Sei não. ― É. Pode ser mal interpretado. ― Vanguarda Conservadora? ― Você enlouqueceu? Fica VC. ― Aliança Republicana de Renovação do Estado. ― ARRE! ― O quê? ― Calma. |
― Espera aí, pessoal. Quem sabe a gente define a
posição ideológica do partido antes de pensar na sigla? Qual é, exatamente, a
nossa posição?
― Bom, eu diria que estamos entre a centro-esquerda e a centro-direita. ― Então é no centro. ― Também não vamos ser radicais... ― Nós somos a favor da reforma agrária? ― Somos, desde que não toquem na terra. ― Aceitaremos qualquer coalizão partidária para impedir a propagação do comunismo no Brasil. ― Inclusive com o PCB e o PC do B? ― Claro. ― Não devemos ter medo de acordos e alianças. Afinal, um partido faz pactos políticos por uma razão mais alta. ― Exato. A de chegar ao poder e esquecer os pactos que fez. ― Partido Ecumênico Republicano Unido. ― PERU? ― Movimento Institucionalista Alerta e Unido. ― MIAU? ― Que tal KIM? ― O que significa? ― Nada, eu só acho o nome bonito. ― MUMU. Movimento Ufanista Mobilização e União. ― MMM... Movimento Moderador Monarquista. ― Mas nós somos republicanos. ― Eu sei. Mas por uma boa sigla a gente muda. ― TCHAU. ― Hum, boa. Trabalho e Capital em Harmonia com Amor e União? ― Não, é tchau mesmo. ― Aonde é que você vai? ― Abrir uma dissidência. |
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
sexta-feira, 19 de agosto de 2016
Brasil: o que dizer?
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