"A Vida Secreta das Palavras" (Isabel Coixet, Espanha, 2005) é um filme sobre o desamparo humano quando a comunicação não é possível, ou se faz de forma precária. Pouco é dito, pouco acontece, mas ensaia-se um caminho para a redenção. O que pode a linguagem? O que as pessoas efetivamente dizem umas às outras, pergunta-se Clarice Lispector em uma de suas crônicas. Paradoxalmente, quando pouco pode ser dito é que parece acontecer o encontro, atravessando a angústia do silêncio que isola. Alguma coisa de humano subsiste para que o encontro propiciado pelas palavras possa acontecer. Não se pode pensar esse encontro fora da dimensão do humano (ou humana). Mas então o homem de fato existe? Seria ele algo mais que aquilo que a linguagem lhe faculta? Ou o humano é dado pelos limites da linguagem, pelo que a linguagem faz dele? O que é o humano? Quando nos encontramos de fato com o outro? O filme parece sugerir que até da mais funda incomunicabilidade a vida pode surpreender, e o humano palpitar, acontecer... Seria assim um despertar da linguagem, sugerido pela imagem do segredo, ou vida secreta, das palavras... Segue o trailer.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário