Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sexta-feira, 27 de agosto de 2010

adoráveis cigarras e formigas

Trabalhar com criança é sempre uma surpresa, via de regra boa. Um pouco inspirada pelo post de um amigo, resolvo relatar aqui uma situação inusitada que vivi. Alunos do 6º ano, encenação em grupo das fábulas do livro que eles leram, do Monteiro Lobato. Algumas apresentações ficaram simplesmente ótimas. Uma delas caiu no anedótico e pitoresco. Um grupo de seis garotos foi encenar a fábula "O lobo e o cordeiro". Eu observando, três de pé encenando (o lobo, o cordeiro e o narrador) e três abaixados num canto, na minha cabeça esperando a hora de entrar em cena, minha cabeça esperando-os entrar em cena. De repente, acaba tudo, rápido. Eu olho para os três e pergunto: e vocês? A gente tava fazendo o barulhinho do riacho... Na hora deu um estalo e eu falei: então troca. Uma saia justa e tanto. Mas o mais engraçado foi que um outro garoto, da turma, rebatizou a fábula: "O lobo, o cordeiro e o riacho". Captou algo da malandragem do grupo. Aliás o carioca é sempre surpreendente. Leciono para cariocas-mirins, mas cariocas, e acabo aprendendo um pouco da manha do mundo com eles. 

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