Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 9 de outubro de 2010

asas do desejo

Não é comentário, não é resenha, não é nada: é só uma fala atravessada por um desejo. Começo a assistir "Asas do Desejo", mas o filme tem uma densidade que não combina com sono. Mas é fatal começar a ver e entender tudo: "Quando a criança era criança,/ não sabia que era criança." O que dizer depois disso? Adultos maltratam-se inutilmente. Que anjos maravilhosos são aqueles, que nunca vi? Talvez, quando assistir ao filme inteiro, até apague este post, mas é que a parte inicial me trouxe uma saudade imensa de alguma coisa que nunca vi, ou vi e não fui capaz de reconhecer. Pois o desejo imediato suscitado pelo filme em mim foi acreditar que exista alguma coisa parecida com anjo que volta e meia passa perto de mim e me protege.

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