É claro que todos (ou quase) assistiram Little Miss Sunshine, essa pérola do cinema independente americano e também um ótimo road movie. O encontro entre seres muito diferentes, que por acaso pertencem à mesma família, é galvanizado pela inocência da little miss sunshine. Um desses encontros é particularmente interessante: o niilista nitzscheano e o fracassado proustiano. Já ao final, eles travam um diálogo, numa espécie de passarela de madeira que adentra o mar (tem um nome para isso, que me escapa agora), numa combinação muito interessante dos dois referenciais citados. Um deles, creio que o proustiano, diz algo assim: os anos de sofrimento foram os melhores da minha vida, pois neles eu cresci. E é de fato assim. A cor amarela domina, viva e brilhante.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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