Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 18 de setembro de 2011

a arenga dos discursos

Diz-se amiúde: cada um luta com as armas que tem. É engano: a luta é com as armas que se consegue manusear. E mesmo isso é passível de questionamento (e o que não é?): a palavra "arma" põe em cena um componente belicoso próprio de um tempo em que tudo parece estar em guerra. O embate, qualquer que seja, começa na linguagem, e assumir a posse de armas é colocar-se no terreno da disputa que a postura parece querer encampar. Passa despercebido que e como o mundo penetra na linguagem e a elege como território privilegiado de seu campo de batalhas, da qual emanam ditos simplificadores dispondo as pessoas, supostamente, de armas com que lutar.

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