Diz-se amiúde: cada um luta com as armas que tem. É engano: a luta é com as armas que se consegue manusear. E mesmo isso é passível de questionamento (e o que não é?): a palavra "arma" põe em cena um componente belicoso próprio de um tempo em que tudo parece estar em guerra. O embate, qualquer que seja, começa na linguagem, e assumir a posse de armas é colocar-se no terreno da disputa que a postura parece querer encampar. Passa despercebido que e como o mundo penetra na linguagem e a elege como território privilegiado de seu campo de batalhas, da qual emanam ditos simplificadores dispondo as pessoas, supostamente, de armas com que lutar.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário