“Então foi afundando num sono, que lhe pareceu ser o mais confortável e satisfatório que já conhecera na vida. O cão encarava-o, numa imobilidade de espera. O dia curto aproximava-se do fim, num longo, vagaroso crepúsculo. Não havia sinais de um fogo em preparo ― além disso, em sua experiência de cão nunca ele vira um homem jazer assim na neve e não fazer um fogo. À medida que o crepúsculo avançava, a ânsia do calor dominou-o ― ergueu alto no ar uma depois a outra pata dianteira e uivou brandamente; em seguida baixou as orelhas em antecipação aos ralhos do homem. Porém o homem permaneceu silencioso. Mais tarde o cão uivou alto; mais tarde ainda chegou-se de rastos até junto do homem e sentiu o cheiro da morte ― que o fez eriçar o pelo e recuar. Atardou-se ainda algum tempo, uivando sob as estrelas, que saltavam e dançavam e rebrilhavam no céu frio. Depois se voltou e trotou pela trilha afora em direção ao acampamento que conhecia, onde havia outros provedores de alimento ― e provedores de fogo.”
JACK London. Acender um fogo. Contos norte-americanos. Organização Vinicius de Moraes. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004, p.256. Tradução deste conto: Ruth Leão.
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